(mãos de Adélia - foto de Elaine)
Tempo de alcance
Eu não posso me submeter ao que o mundo poderia pensar. Escrever é um ato complexo, político, misterioso, filosófico e humanamente obscuro. Somos pais e mães de palavras vindas a Luz. Escrever é luminosidade.
Assim eu iniciaria um texto pra falar sobre Clarice, eu diria da sua força, da sua grandeza, da sua máxima e intensa sensibilidade, mas ela por si, delicada e astuta, já o fez. Se fez tão misteriosa essa mulher diva, que me encanta só o fato de falar dela.
Se eu tivesse a possibilidade de falar com ela, eu diria do prazer, mas também da caridosa alma que compartilhou esse mundo tão amplo. Na verdade pediria um abraço de cinco minutos, um abraço para abarcar minha dor de não tê-la conhecido mais e melhor antes. Um abraço com sabor de vento entre células, até ela se enfurecer e partir sem olhar pra trás.
Ou talvez um abraço mais curto pra esticar o tempo da sua mansidão, um diálogo simples, com tempo pro seu cigarro, sim Clarice fumava e muito! Com tempo pra ofertar flores uma de cada vez.
Mas Clarice me ronda, me estimula, diria até que me entende e porque me compreende e por compreender me tem nas mãos de sua poesia, feito letra e verso fora da entrelinha, esmagados sobre as lentes em cada leitura.
Clarice me seria, mais uma tia perfeita. A tia dos nobres e vigorosos contos, das fadas à dura realidade em seus mundos úmidos de frescor, escrevente nas madrugadas e ao amanhecer. Escrevia-se.
Tinha seu próprio conjunto de mágicos poderes, e tanto assim, que voará, voará para que não mais a alcancem, o sofrer abriu as portas também da felicidade. Um tempo de assombros, sussurros e gestos cálidos, um quase tempo de alcance, para uma escritora única.
Clarice, aqui te bendigo, seja bem vinda em nós humanos em crescimento. Minhas saudações, com grandes saudades,
Elaine.
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