segunda-feira, 21 de março de 2011

esperas, encontros e conversinhas momentâneas

Ah o Chile...!!
Comecemos pela espera, o vôo cancelado permite pausas, a espera permite análise, observação e pensamentos aéreos, nem sempre ligados à aviação, diga-se de passagem.
Nosso vôo da tarde foi cancelado e portanto iremos no noturno...5 horas básicas de espera. Tempo para relembrar momentos e histórias importantes dessa semana.

O encontro é exemplificado por algo muito interessante, na última vez que estive aqui em Santiago, conheci uma artesã curiosíssima que trabalha em seu ateliê no Pueblito de Los Dominicos, a chamaremos de Sra J., nesse primeiro encontro, entrei em sua loja e ela se apresentava vazia, fiquei olhando tudo meio encantada por uns 2 minutos, até que ela entrou com um grande sorriso e uma mirada com seus grandes e brilhantes olhos, me cumprimentou, falamos de seu belo trabalho, é pintora e de sua técnica. Trabalha com imagens de santos de vários lugares do mundo com uma técnica antiga, quase barroca mas muito vibrante. Prometi a ela que numa próxima oportunidade lhe traria imagem de N.S.Aparecida, como padroeira do Brasil através da Igreja Católica para que conhecesse, assim como alguma outra mais, acabei conseguindo a de NS Guadalupe, México e de NS de Lujan da Argentina. Promessa feita, promessa cumprida.
Nessa nova vinda, fui até o povoado num dia de sol, com ventinho frio e calculado, para entrar na roupa da gente só nas sombras... e cheguei no seu ateliê, entrei e perguntei: "te acuerdas de mi?" (se lembra de mim?), abriu, um sorrisão e os braços e disse: "la Brasileña", rimos muito e num grande abraço o encontro se fez e milagrosamente durante uma hora ninguém entrou para atrapalhar nossa conversa, falamos das pinturas, de como andava o Chile, da vinda de Barak, da secura do ar, das imagens que lhe ofereci até chegarmos no nosso assunto predileto: a parte mística. Falamos por mais de 45 minutos de nossas crenças e da fé que nos une em vários pontos do mundo, numa felicidade Violeta sem fim. Até que me contou como transformou sua vida numa busca pela fé, contarei de forma resumida, pois foi muito tocante o que se seguiu.
Em 1973, a sra J. foi detida pelo golpe do período Pinochet, sendo presa, passou por coisas atrozes, mas no dia em que foi para a tal cela do comandante, que violara a todas as amigas anteriormente, teve uma visão: saiu de seu corpo e uma voz orienta claramente o que deveria fazer. E com isso, apesar de aviltada, não sofreu dano físico. A partir desse momento muda toda a rota de sua vida e a busca leva à pintura e seguindo certos sinais, está hoje como gostaria. Madura, serena, feliz e produzindo sua arte expressiva e sincera. Ouvindo sobre isso tudo não pudemos conter o choro e algo nos uniu ainda mais nesse encontro. Me presenteou com uma pequena obra feita com a imagem da Santíssima Família, que trago na mochila como uma espécie de bendición. Agradecidas, encerramos nossa conversa falando sobre a cor preferida de Saint Germain, no dia seguinte 19.03 é o dia consagrado a ele e num grande e fraterno abraço nos despedimos. Por um grande momento, essa vibração ficou no ar e me acompanhou pelos 20 minutos entre a caminhada até o metro e a viagem até meu hotel.
Vibrava interiormente como se fosse um curto circuito e as pessoas acabavam me fitando e sem conter o sorriso, sorria e garantia alguns sorrisos de volta. Cheguei no hotel às sete da noite, ainda com sol e refletindo profundamente, de como  nada passa de momentos...
Do Chile e com toda a boa e violeta vibra para vocês,
Elaine



(Minha nova amiga J. e a NS da Abundancia)
  
(Obra que me chamou a atenção para entrar no ateliê por J.T.)
 

(Metro de Santiago )

quarta-feira, 16 de março de 2011

Argentina - Salta - Humahuaca - Uquía



(Carnaval en la Quebrada de Humahuaca)


À 200kms de Salta na Argentina, encontrei no Carnaval uma cidadezinha curiosa. Humahuaca, passeio concorrido devido as belezas naturais e as montanhas "de las siete colores", na constituição da natureza alguns elementos da natureza, como cobre e enxofre, fazem com que partes das montanhas:


("La paleta de Diós" com as sete cores)

apresentem até 07 tons diferentes para celebrar a natureza. Humahuaca fica um pouco depois disso, tem um pueblito curioso, vivem de turismo e artesanato. Hà um sub distrito chamado Uquiá que tem uma igreja curiosa, que conto depois.
Chegamos para passar uma parte do dia e já percebemos que o carnaval aqui é a ida ao Hades mesmo. Com força católica, as cidades nesse dia tem seus cidadãos amalucados pela bebida e a tal "liberdade" concedida pela figura mítica do  "el diablito", na foto acima estão vestidos como manda a tradição, usam máscaras e jogam espuma e talco em todo mundo (escapamos ilesos por sermos turistas), seguem um corso (cortejo atrás de uma bandinha), pulam, gritam e se perseguem. Bebem muito, e segundo alguns é a festa dos nove, nove dias de farra, nove de ressaca e nove meses depois um aumento significativo de nascimentos... Mas não pudemos comprovar essa verdade!
(tradicional prato com baixíssimo colesterol,
"milanesa de Lhama")




Aproveitamos para almoçar seguindo a indicação dos guias e o prato escolhido foi o tradicional "milanesa de Lhama".  Seguimos viagem e a cada nova paisagem, mais a paisagem encantava. Um mundo de surpresas na beleza, no comportamento humano, na limpeza ou não das cidades e toda uma gama de infinitos olhares.

O bom de viajar, mesmo assim, um pouco corrido é que nosso olhar se desapega das certezas e percebemos que o mundo é muito maior que nosso umbigo e ele é surpreendente!

De Buenos Aires, Elaine

terça-feira, 15 de março de 2011

lidemos com o tamanho real das coisas



(de uma parede no Museo de Querétaro - MX - por Elaine)





Vivemos num mundo maiático...
mas mesmo assim é um mundo!!
E apesar de tudo gosto de viver nele, aprendemos todos os dias... e deveremos aprender a dar o peso adequado a tudo, sem stress, sem medo, sem complexos... Nada de aumentar os danos, deveremos aprender a aumentar nossa auto estima e brilho...porque tudo tem a cor que a gente pinta...rs


Felizes dias,
De algum lugar do planeta, Elaine
 

sexta-feira, 4 de março de 2011

mundo bonito, luxo necessário


(Detalhe do Mosaico no Teatro Colón - Argentina)

Adentrei nesse espaço, quase vinte anos depois de minha primeira estada na Argentina. Todas as outras vezes que estive aqui, não pude conhecer o grande colosso, ora por estar fechado para visitação, ora porque não era o dia, ora porque estava fechado pelo seu restauro. Finalmente cheia de emoção nesse dia 02 de março, consegui casualmente chegar exatos 5 minutos antes da visita guiada para o dia. Emocionada por ter tido uma grande amiga Rosa Buk, poetisa argentina que ali trabalhou e que sempre me comentava sobre a beleza desse espaço. Em 2008 quando aqui estive, Rosa já havia falecido. Não pude conhecê-la pessoalmente, pois eramos amigas virtuais. Mas nesse dia, rendi homenagem a essa querida amiga, visitando esse espaço que ela valorizava.

Comprei meu ingresso e aguardei. Flávia Conde, a responsável pelo educativo do espaço, nos acompanhou muito solícita e quase amorosamente ao grupo, éramos mais ou menos 20 pessoas e nos conduziu por uma hora e tantinho, por salões, corredores, balcões, palco e platéia deste espaço inesquecível. Não só pela sua arquitetura, que impressiona, mas em especial pela sua importância dentro e para a Arte (musica e teatro). Tudo se iniciou por conta das grandes óperas  e caminhou historicamente com toda pompa e circunstância em várias facetas da história desse país aguerrido.

Foram investidos cem milhoes de dólares na Re Valorização do Teatro, desde 2006, esse objeto de nossa atenção passou por um processo de Revalorização, não um simples restauro. Valorização!!

Esse é um ponto que podemos, nós brasileiros, aprender com os porteños. Quando se trata de valorizar a arquitetura, arte e patrimônio, são bem dedicados. Valeu os US$15.- pagos para visitar por uma hora esses domínios, antes reservados à elite que se espelhava no mundo europeu no século passado.

Não tem como não se encantar com a aura do mundo daquela época, entrar em contato com essa aura, imaginar que a maioria das pessoas que por ali passaram, já não existe mais concretamente, dá uma certa emoção. Mesmo porque em sã consciencia, nenhum arquiteto atual pensaria algo tão grandioso, dadas as novas leis, regras, utilização de materiais não inflamáveis, escadas, elevadores adaptados para necessidades especiais, brigada de incendio, cortinas que não queimam.

Enfim, é preciso preservar a história, esse luxo necessário para que possamos nos preservar a nós, nossas raízes e nossa vivência pelo planeta. Local de aprendizado com o feio, o belo e o questionável. Se ainda não conhece, venha. Se já o viu divulgue.

Quem sabe alguma alma generosa e visionária, influencie aos nossos governantes por uma campanha pró memória em nosso Brasil. Onde turistas sejam bem tratados, orientados e possam ir e vir aprendendo com nossa história. Chega de derrubar casarões e de delapidar nossa história. Um povo sem memória, morre cedo, ou seremos conhecidos apenas como local de natureza abundante e turismo sexual. 

Muitas lições para aprender.

(Teatro Colón - Argentina)
De Buenos Aires, Elaine