terça-feira, 21 de setembro de 2010

sem trinco, um mundo à se pensar

(portada da Iglesia de San Franciso, Santiago do Chile, por Elaine)

De silêncios em silêncios, preenchemos o mundo de sons



Desculpe a falta de atenção....



Foi assim que comecei a carta... era uma carta pra um amigo que ainda não conheço ou melhor não conheço pessoalmente. Durante um tempo havia me retirado pra repensar as condições do mundo e suas tantas mudanças, e essas dúvidas foram ampliadas ao ler o texto desse amigo que ainda não conheci, um texto que falava de silêncio.



Ele contava dos silêncios e suas magnéticas circunstâncias filosóficas e uma coisa leva a outra, sabe esses silêncios que se apoderam da nossa mente? Esses!!! e comecei a ir longe, refletindo sobre o poder do silêncio em nossa criação. Quando escreve, se deseja que a nossa palavra, ali, silenciosa, saia falando ao mundo de suas (nossas) aventuras com as letras, de nossos casos amorosos com os pensamentos, das particularidades recônditas em cada vírgula, todo um mundo próprio e sem barreiras e onde preenchemos o mundo com sons e suspiros, é isso, onde diabos vai parar tudo isso?



Num instante se faz uma vida, um texto, uma obra de criação.



A solidão do escrever é algo que se compartilha com as teclas, com a caneta e escrever com a alma é algo um tanto febril. São como ondas que tomam as mãos e escrevo e quando termino nunca sei o resultado. São as obras de arte do coração que entregamos ao mundo porque já não são mais nossas, são do leitor, do apreciador, do espectador, da outra entidade que convivemos, mas mal sabem eles que entramos na alma do mundo e a tentamos decifrar, mais que isso, tentamos traduzir e decodificar e repassar ao mundo a mensagem que o próprio mundo produziu.



Quanto ao destino dessas palavras e das obras em geral, são ondas que vão atingir muito além do imaginado... sempre no fundo há um ressoar, mas não importa pois a diferença está na ousadia de ir além do querer.



O que eu desejo saber, alguém deseja responder e assim geram-se os vórtices de idéias onde ele talvez se expanda, talvez se concentre pra explodir mais tarde, não importa. Talvez simplesmente ao criar, tenhamos ouvido aquela voz, que tantos temem seguir, a voz dos silêncios existentes na criação interior.



Silêncios e silenciosos momentos, e ai, um só minuto é pouco pra ouvir tanto!


Em algum lugar do planeta, Elaine

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

memórias da insônia

(botas no inverno chileno - por Elaine)



Noites estreitas, Lua cheia onipresente, sensação de mundo em crescente descrédito....
e ai... o pensamento que quieto se encontrava, invade meu ser em busca de um porto seguro, e o porto segura nunca está onde o colocamos, mas dessa vez o caminho foi ao passado, à memória, e a reflexão sobre esse ponto cresceu e dela necessito falar.
Das memórias e seus eternos acalantos ...isso é claro falando das memórias boas, porque das memórias ruins hoje não quero falar não...
das memórias boas, num exercício de esforço genuíno, tentei lembrar qual foi minha primeira memória consciente...da primeira coisa que me lembrei sendo gente, olha foi um parto mas acho que consegui resgatar algo bem longínquo, algo como aos quatro ou cinco anos, quando meu pai me ensinou a dar laços nos sapatos, eu era uma pequena pisciana e costumava usar calçado de fivela, mas quanto vieram os sapatinhos com laço e a tal musica da Celi Campelo, ganhei o tal sapato de dar laço. Me lembro estar sentada no braço do sofá na copa de casa e meu pai então me ensinando a dar o laço e ele cantou um trecho da música "um sapatinho eu vou..." eu achei aquilo divertido e me mostrou como fazer, nada de laçada de orelha de coelho que amarra na outra, já me ensinou o laço mais complicado mesmo, com laçada e nó, foi divertido, amarrava e desamarrava uma porção de vezes, até me dar por satisfeita.
Um desafio vencido, um exemplo jamais esquecido sobre aprendizagem.
Nos dias de hoje onde tudo e todos, com algumas boas exceções, nivelam os aprendizados à reles superficialidade, fica a surpresa de um ato bem feito valer muito mais que palavras sem peso.
Meu pai sempre me ensinou a fazer o correto, pois a gente deve ter a logística pra tudo e fazer certo é o caminho mais curto, sempre, pra aprender. Mas não significa que não possamos errar, mas o ponto aqui é outro, é aprender por si e não depender.
Conto essa memória, pois caminho muito pelo mundo e os laços sempre estão bem feitos, evitando que eu caia ou tropeçe nos cordões de minha desatenção.
Memórias boas, exemplos fortes, aprendizado com profundidade, essa seria uma boa bagagem pra deixar no mundo.


De Chile, Elaine