quinta-feira, 23 de junho de 2011

uma salada, uma prosa, um chá de ervas porteño.

Uma senhora distinta, minha companhia nesse dia chuvoso!!
foto interna da livraria Ateneo em B.Aires 
Passeios e passeios, um mundo por conhecer, um roteiro bem pensado sempre nos faz sair do óbvio.
Uma livraria seja onde for, não faz parte dessa mentalidade. Entre as dezenas visitadas por mim, a livraria Ateneo em Buenos Aires, é uma das mais especiais pois é construída à partir de um antigo teatro, o que é louvável e criativo, manteve toda o charme e elegancia do período e em meio a milhares de livros e uma ótima localização: na Av. Santa Fé, recebe à diário muita gente de todos os lugares do mundo. Há todo um encanto a se observar.
No palco, hoje uma agradável cafeteria, onde centenas de idiomas misturam-se com despretenciosa vontade de integrar-se à esse espaço,  entre cafés, chás, medialunas, lanchinhos o ar inspira cultura, inspira que nos alegremos, pois nesse oásis ainda há espaço para a boa conversa. Assim começou meu almoço às 3 da tarde de um dia nublado, chuvoso, frio, mas um ótimo dia de caminhante pela cidade. Resolvi sair por volta das 13 hs em direção à av. santa fé, caminhando, olhando, respirando, aconchegada num abrigo impermeável e lilás! Uma caminhada de hora e meia, foi tranquila, apenas fugindo das poças de água e um ou outro paraáguas pelo caminho. Ao entrar dei de cara com uma pilha de livros novos da Isabel Allende, verifiquei o preço para pegar posteriormente e fui direto ao fundo, ali no palco do antigo teatro, percebi que passára à muito de meu horário de almoço. E aproveitei o momento para desfrutar da tranquilidade desse horário para pedir uma saladona de alface, cenoura, cebola e atum muito bem temperada ... veio rápida pelas mãos de Dalila a atentendente que muito atenciosa me serviu. Sim, eu sempre encontro gentileza por onde passo. 
Reparei ao lado que uma senhora muito simpática, dessas velhinhas que queremos levar para casa, folheava alguns livros com um olhar de grande intensidade, me pareceu ter sua idade em torno dos 70 anos, diligente, abriu sua bolsa pegou uma cadernetinha e com um celular na mão pacientemente consigo mesma, digitou cada número e enquanto aguardava que o atendessem me olhou e sorriu, conversou algo com alguém muito próximo, pois emitiu vários "sí mí amor" e "así es cariño", ao terminar a ligação, chamou a atendente e pediu um chá de ervas. E eu ali deliciando-me com a tal salada...
De repente quase engasgo, a senhora como que lendo o meu pensamento vira e me diz: "no es uma maravilla estar en medio a la cultura, en este espacio, desfrutando la calidez de una buena comida e companhia?"  Foi o que bastou para termos uma breve conversa, breve, mas profunda. Me mostrou os livros que estava pesquisando para ver se levava: Yoga para Dummies, algo como ioga para iniciantes lentos...rs, depois outro: Yoga para maiores, Sexo y tantra, Como eligir la felicidad, Se es feliz, assumate. Bom, eu nem preciso dizer que a preciosa senhorinha é um poço de vitalidade e juventude, apesar das rugas e a séria artrose em uma das mãos. Novamente seu celular tocou e me pedindo licença, virou-se para atende-lo, com os mesmos "mí amor" e "sí cariño". Dentro da minha alma eu ria com diversão, fiquei me imaginando assim velhinha, falante, divertida (sem a artrose e de preferencia com menos rugas...rs) mas assim, dada, faceira, simpática, boa de papo, alegre!!! Me senti tão feliz naqueles instantes com essa senhora. Ela era eu num futuro bem distante, dessas que fala com estranhos pelo simples fato de ser assim, sem carência, sem stress, apenas porque isso está na sua alma. Curiosa, olhando tudo mas com aquele olhar paciente, que sabe deleitar-se em cada fresta, em cada lombada de livro, sem a pressa, comum aos nossos dias! Encerrou o telefonema, elegantemente finalizou seu chá. Me olhou com seus olhos brilhantes, me deu um sorriso enorme, desejou que eu desfrutasse do espaço, do passeio e me abençou! Isso está se tornando recorrente. Curioso! Bendiciones sempre são muito bem vindas! 
Terminei minha saladinha, engasgada, mas feliz. Comi o pãozinho integral quentinho. Tomei uns goles de suco. E quase chorei. Mas não fiz isso, era diluir essa felicidade. Engoli o choro e pedi um expresso.
O gosto de Brasil me deu ânimo para enfrentar o tempo frio e horrível que fazia ali fora. Frio!
Mas antes de sair percorri toda a livraria (na parte de baixo) olhando os lançamentos, livros infantis e os de Isabel Allende, muita coisa chamou a tenção, mas dado o avançado da hora, resolvi ir embora, caminhando (mais uma hora e tanto) e levar a minha velhinha interior para ver o quanto de lindo mesmo no frio úmido, há nessa cidade.

De Buenos Aires, Elaine

domingo, 5 de junho de 2011

Las Palabras...

Hoje me sinto vitoriosa, por exatos 3 segundo senti melancolia e vontade de voltar pro Brasil, um sentimento quase covarde, uma sensacao que há muito nao me tocava o sentir, aquela vontade de me deitar no colo amigo e desabar de chorar, de tristeza ...saudades... incompreensão, radicalismo, enfim mille sentires... e sem pensar olhei o céu que nos protege, olhei o verde que me acolhe, e a luz, ahhh, a tal luz que tem nesse país! E transformei essa sensação em poder. Não é fácil estar fora do lar pátrio, não é fácil... mas  além de um desafio! encarei o medo.

E a mudança ocorreu sem nenhuma sombra. Parece que descondicionei a mente ao "vitimismo" ao sofrido que as vezes nos assolam, quando distante de nós mesmos, me senti vitoriosa sobre mim... isso é algo a celebrar.

Me gostei mais!

Tive a oportunidade de pela primeira vez dado esse sentimento, me esmerar na leitura de classe
espanhol e quase chorar ao ler pela primeira vez esse texto:

Las Palabras de Pablo Neruda:
...Todo lo que usted quiera, sí señor, pero son las palabras las que cantan, las que suben y bajan.Me posterno ante ellas... Las amo, las adhiero, las persigo, las muerdo, las derrito... Amo todas las palabras. Las inesperadas... Las que glotonamente se esperan, se escuchan, hasta que de pronto caen...

Vocablos amados. Brillan como piedras de colores, saltan como platinados peces, son espuma, hilo, metal, rocío... Persigo algunas palabras...

Son tan hermosas que las quiero poner en mi poema. Las agarro al vuelo cuando van zumbando, y las atrapo, las limpio, las pelo, me preparo frente al plato, las siento cristalinas, ebúrneas, vegetales, aceitosas, como frutas, como algas, como ágatas, como aceitunas... Y entonces, las revuelvo, las agito, me las bebo, las trituro, las libero, las emperejilo...

Las dejo como estalactitas en mi poema, como pedacitos de madera bruñida, como carbón, como restos de naufragio, regalos de la ola.

Todo está en la palabra. Una idea entera se cambia porque una palabra se trasladó de sitio, o porque otra se colocó dentro de una frase que no la esperaba...

Tienen sombra, transparencia, peso, plumas. Tienen todo lo que se les fue agregando de tanto rodar por el río, de tanto trasmigrar de patria, de tanto ser raíces... Son antiquísimas y recientísimas. Viven en el féretro escondido y en la flor apenas comenzada...

Qué buen idioma el mío, qué buena lengua heredamos de los conquistadores torvos. Estos andaban a zancadas por las tremendas cordilleras, por las Américas encrespadas, buscando patatas, tabaco negro, oro, maíz con un apetito voraz.

Todo se lo tragaban, con religiones, pirámides, tribus, idolatrías... Pero a los conquistadores se les caían de las botas, de las barbas, de los yelmos, como piedrecitas, las palabras luminosas que se quedaron aquí, resplandecientes... el idioma. Salimos perdiendo... salimos ganando. Se llevaron el oro y nos dejaron el oro. Se llevaron mucho y nos dejaron mucho...

Nos dejaron las palabras.
__________Não cabe comentarios, me retiro silenciosamente para dar espaço ao Mestre Neruda!


Observações:
Este texto foi escrito para um outro blog no final de 2009, que está sendo diluído e transferido aos poucos aqui pro PORTÁTIL.