Ah o Chile...!!
Comecemos pela espera, o vôo cancelado permite pausas, a espera permite análise, observação e pensamentos aéreos, nem sempre ligados à aviação, diga-se de passagem.
Nosso vôo da tarde foi cancelado e portanto iremos no noturno...5 horas básicas de espera. Tempo para relembrar momentos e histórias importantes dessa semana.
O encontro é exemplificado por algo muito interessante, na última vez que estive aqui em Santiago, conheci uma artesã curiosíssima que trabalha em seu ateliê no Pueblito de Los Dominicos, a chamaremos de Sra J., nesse primeiro encontro, entrei em sua loja e ela se apresentava vazia, fiquei olhando tudo meio encantada por uns 2 minutos, até que ela entrou com um grande sorriso e uma mirada com seus grandes e brilhantes olhos, me cumprimentou, falamos de seu belo trabalho, é pintora e de sua técnica. Trabalha com imagens de santos de vários lugares do mundo com uma técnica antiga, quase barroca mas muito vibrante. Prometi a ela que numa próxima oportunidade lhe traria imagem de N.S.Aparecida, como padroeira do Brasil através da Igreja Católica para que conhecesse, assim como alguma outra mais, acabei conseguindo a de NS Guadalupe, México e de NS de Lujan da Argentina. Promessa feita, promessa cumprida.
Nessa nova vinda, fui até o povoado num dia de sol, com ventinho frio e calculado, para entrar na roupa da gente só nas sombras... e cheguei no seu ateliê, entrei e perguntei: "te acuerdas de mi?" (se lembra de mim?), abriu, um sorrisão e os braços e disse: "la Brasileña", rimos muito e num grande abraço o encontro se fez e milagrosamente durante uma hora ninguém entrou para atrapalhar nossa conversa, falamos das pinturas, de como andava o Chile, da vinda de Barak, da secura do ar, das imagens que lhe ofereci até chegarmos no nosso assunto predileto: a parte mística. Falamos por mais de 45 minutos de nossas crenças e da fé que nos une em vários pontos do mundo, numa felicidade Violeta sem fim. Até que me contou como transformou sua vida numa busca pela fé, contarei de forma resumida, pois foi muito tocante o que se seguiu.
Em 1973, a sra J. foi detida pelo golpe do período Pinochet, sendo presa, passou por coisas atrozes, mas no dia em que foi para a tal cela do comandante, que violara a todas as amigas anteriormente, teve uma visão: saiu de seu corpo e uma voz orienta claramente o que deveria fazer. E com isso, apesar de aviltada, não sofreu dano físico. A partir desse momento muda toda a rota de sua vida e a busca leva à pintura e seguindo certos sinais, está hoje como gostaria. Madura, serena, feliz e produzindo sua arte expressiva e sincera. Ouvindo sobre isso tudo não pudemos conter o choro e algo nos uniu ainda mais nesse encontro. Me presenteou com uma pequena obra feita com a imagem da Santíssima Família, que trago na mochila como uma espécie de bendición. Agradecidas, encerramos nossa conversa falando sobre a cor preferida de Saint Germain, no dia seguinte 19.03 é o dia consagrado a ele e num grande e fraterno abraço nos despedimos. Por um grande momento, essa vibração ficou no ar e me acompanhou pelos 20 minutos entre a caminhada até o metro e a viagem até meu hotel.
Vibrava interiormente como se fosse um curto circuito e as pessoas acabavam me fitando e sem conter o sorriso, sorria e garantia alguns sorrisos de volta. Cheguei no hotel às sete da noite, ainda com sol e refletindo profundamente, de como nada passa de momentos...
Do Chile e com toda a boa e violeta vibra para vocês,
Elaine
Do Chile e com toda a boa e violeta vibra para vocês,
Elaine