quarta-feira, 1 de abril de 2015

As cobras e lagartos de meu jardim

Semanas atrás um amigo muito querido me emprestou para que assistisse a novela – compilada - Vale Tudo (aquela que parou o Brasil – para descobrir quem matou a Odete Roittman) novela global de uma época em que havia um certo respeito pelo espectador e sua imaginação. Anos 80\90. E para minha surpresa, assistindo na sequencia os capítulos eu percebi um ótimo texto, um português corretíssimo, atuações impagáveis, diálogos inesquecíveis e também uma certa canastrice, além da repetição de móveis em inúmeros cenários...
Mas o mais bacana disso é que esta novela se tornou um objeto histórico. Um objeto onde colocamos nossa atenção como espectadores mais críticos, como quem vive observando para aprender um pouco mais, de um passado não tão remoto mas que fornece material de análise humana. E como uma espécie de espelho para o futuro onde o VALE Tudo se instalou. Hoje em dia não me sinto capaz para assistir novelas. Prefiro esporadicamente as minisséries (se indicadas), porém essas novelas antes de 2000 tinham um contexto mais próximo da realidade que se constituía em parceria com a imaginação do espectador, atualmente talvez, o discurso venha pronto, tão pasteurizado que ao invés de discutir a perda do Estado Laico, as pessoas se preocupam sobre o beijo das duas senhorinhas, dada a superficialidade na condução massiva dos menos críticos.
Mas voltando à observação do objeto de estudo, podemos fazer correlações sobre a forma de nos portarmos no mundo: muitos dos personagens dessa trama aparentemente seguiam a cartilha do demônio, outros da parte angelical – em ambos os lados: suportando problemas, administrando crises e mantendo-se fiéis aos seus valores.
Como núcleos estanques. Porém com o passar do tempo algumas atitudes, ações de cada personagem foram tornando possível o movimento. Um fazia o outro desfazia. Um falava o outro silenciava, um batia e o outro apanhava como uma bela dança entre os pares de opostos, com suas luzes e sombras. Quem não torceu pelos tapas na Maria de Fátima, ou quem não aplaudiu a caída da D. Odete?  E não torceu pelo amor vencer em muitos dos casais que ali se configuraram.
Como também se emocionaram com a tomada de consciência à cada sombra absorvida pela luz do núcleo do bem, quando a vilã derrotada, chorava e se colocava humanizada perante o mundo de olhos televisivos.  Porém, em muitos momentos o tal bem e mal precisaram sim, usar certas armas ora de um lado ou ora do outro para manterem-se no movimento da vida. Ter maleabilidade, flexibilidade. A trajetória dos heróis e heroínas e os passos deles pelo mundo.
Sinto que assim, também, tem sido a vida, certas ações e atitudes de expurgo pelo mundo só demonstram o quanto ainda nos falta consciência para viver e conviver com o diferente e assimilar a sua existência, veja não estou pedido a aceitação disso, mas a assimilação de que tudo é uma grande rede interligada. Agora uma coisa eu tenho certeza, quanto mais eu expurgo esse diferente, mais meu mundo se torna opaco. Mais o meu mundo se torna morno e monótono e mais a enantiodromia me fará dar voltas e voltas, mantendo o eixo do mundo particular – infinito apenas em mim, sem renovações. Mas tudo no tempo da prontidão para os dispostos a encarar a VIDA, com o eterno mudar e a paciência longínqua para os que se adaptam ao mundo tal qual está. Pelas reflexões Alex Olobardi, muito agradecida!!
 
Elaine, no planeta Terra - doida para saltar fora!

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