sexta-feira, 3 de setembro de 2010

memórias da insônia

(botas no inverno chileno - por Elaine)



Noites estreitas, Lua cheia onipresente, sensação de mundo em crescente descrédito....
e ai... o pensamento que quieto se encontrava, invade meu ser em busca de um porto seguro, e o porto segura nunca está onde o colocamos, mas dessa vez o caminho foi ao passado, à memória, e a reflexão sobre esse ponto cresceu e dela necessito falar.
Das memórias e seus eternos acalantos ...isso é claro falando das memórias boas, porque das memórias ruins hoje não quero falar não...
das memórias boas, num exercício de esforço genuíno, tentei lembrar qual foi minha primeira memória consciente...da primeira coisa que me lembrei sendo gente, olha foi um parto mas acho que consegui resgatar algo bem longínquo, algo como aos quatro ou cinco anos, quando meu pai me ensinou a dar laços nos sapatos, eu era uma pequena pisciana e costumava usar calçado de fivela, mas quanto vieram os sapatinhos com laço e a tal musica da Celi Campelo, ganhei o tal sapato de dar laço. Me lembro estar sentada no braço do sofá na copa de casa e meu pai então me ensinando a dar o laço e ele cantou um trecho da música "um sapatinho eu vou..." eu achei aquilo divertido e me mostrou como fazer, nada de laçada de orelha de coelho que amarra na outra, já me ensinou o laço mais complicado mesmo, com laçada e nó, foi divertido, amarrava e desamarrava uma porção de vezes, até me dar por satisfeita.
Um desafio vencido, um exemplo jamais esquecido sobre aprendizagem.
Nos dias de hoje onde tudo e todos, com algumas boas exceções, nivelam os aprendizados à reles superficialidade, fica a surpresa de um ato bem feito valer muito mais que palavras sem peso.
Meu pai sempre me ensinou a fazer o correto, pois a gente deve ter a logística pra tudo e fazer certo é o caminho mais curto, sempre, pra aprender. Mas não significa que não possamos errar, mas o ponto aqui é outro, é aprender por si e não depender.
Conto essa memória, pois caminho muito pelo mundo e os laços sempre estão bem feitos, evitando que eu caia ou tropeçe nos cordões de minha desatenção.
Memórias boas, exemplos fortes, aprendizado com profundidade, essa seria uma boa bagagem pra deixar no mundo.


De Chile, Elaine

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