quarta-feira, 13 de abril de 2011

diálogo contemporâneo, afetivo e interativo

Ok... Entendi direitinho. Meu mundo se move por imagens e às vezes, saio captando por ai algumas coisas. Aconteceu que, nesse dia algo raro e complexo ocorreu, minha câmera disse não.

E eu não a fotografei, eu a resolvi seguir. É eu entendi direitinho. Ela desceu ali naquela estação do centro, numa rua longa, uma rua complexa. Atenta, com o olhar que costumo ter quando observo o mundo como “fotografante”. Parecia absorver no ar as partículas mais suspensas.

Caminhei com certa distância e fui acompanhando. Entrou na livraria, pegou um livro, viu a dura capa e tive a impressão que o peso do livro foi o ponto para que não o comprasse agora, mas que mais adiante numa outra oportunidade ela o levaria para casa. Saiu tomou um gole d’água e seguiu, mais à frente sacou uma cadernetinha e simpática encostou-se numa base de concreto e anotou algumas coisas. Minha mente curiosa ficou mais aguçada ainda. O que será que anota?

Olhou ao redor, mas não me viu. Que alívio. Isso me desviaria e perderia a razão de minha observação. Respirou, admirou ao redor e seguiu.

Entrou numa espécie de exposição, vi ali os quadros e resisti o quanto pude, mas de fora eu via suas ações e queria me juntar. Mas quando observamos, não podemos interferir. Não podemos querer distorcer nossa maior emoção. Mantive uma distancia confortável para ela e também para mim e ali fiquei. Anotava.

Olhava o quadro, fitava por segundos, aproximava os olhos da tela, uma hora vi que passou a língua nos lábios como se saboreando as camadas. Quando saiu de frente aquela tela , fui para o seu lugar. Ali fiquei. De fato eram tantas cores que me deu vontade de morder a tela, mas seria mais que intervenção, seria um atentado a obra. Mastiguei um caramelo e percebi que continuava anotando, de seus dedos saiam luzes, era como houvesse se apossado de algo da obra que agora falava por si, pela escrita. Pensei que poderia ser professora, ou poeta, ou ainda alguém que tem febre pelas letras como eu tenho pelas imagens. Aproveitei esse momento e me aproximei, com cuidado, mas o transe era focado, pude ver sua letra correndo azul sobre o papel, uma letra linda, ágil, definida. Não me demorei muito, mas pude ver o quanto de personalidade marcante ela possuía.

Afastei-me devagar, sempre com o cuidado de não interferir. Aos poucos foi relaxando as mãos, que ficaram mais longas e suaves. Acariciou o caderno como quem acaba de anotar um tesouro, e assim delicada ficou como em êxtase, esperando o ritmo do coração voltar ao normal, assim como as cores de sua face, que agora mais rubras, sorriam.

Dou-me conta de quantas incríveis fotos eu perdera, mas existem momentos que câmeras devem mesmo dizer não e que a retina, esta sim, deve guardar a poesia e a construção de algo que se vai parir depois. Assim como ela, ali, absorta, mudava mundos internos e acomodava as cores viventes no seu peito, mesclando sal, do suor e das lágrimas.

Encerra a visita colocando fones de ouvido, seus dedos teclam sobre as pernas. Talvez o que ouça agora seja música ao piano, tecla acompanhando o ritmo. Levanta e saí rapidamente. Se perde em meio da multidão e eu sigo imaginando como poderia se chamar tal pessoa. (Elaine Perli Bombicini)


Adelia e Elaine

Esse texto é parte de um diálogo contemporâneo, afetivo e interativo com o blog:


onde sigo e participo na troca de olhares, letras e entendimentos...
(escreverei mais, mas a ansiedade em postar é maior...rs)

O texto surgiu como uma espécie de contra mirada, ao texto que Adélia escreveu chamado "Evento", onde através de sua observação, narra em toda a gama de cores e sentidos sua ida até uma exposição, todo o trajeto vivenciado, tornou-se então, parte do Evento.
Escrevi como uma continuidade, o meu olhar sobre, junto e através.. uma vivência em escrita. Gostei imensamente de fazer isso.

Adélia, assim ela se chama.

De algum lugar no planeta, Elaine
















2 comentários:

Adélia Nicolete disse...

Olha eu aí no blog da Lan!
Acho o maximo essa coisa de blog, porque a gente deixa registrado e guardado tudo que é preciosidade. Uma caixinha organizada.

Parabens, Lan, a sua caixinha esta uma delicia.
beijos!

Elaine P Bombicini disse...

Vamos combinar amiga...se não fizermos essa troca quem fará...?
E voce tem toda razão, registrar e guardar, dá um tom de preciosidade, de pequenos tesouros, como na nossa fase de infancia, aquela caixinha com segredinhos e coisinhas importantes... esses textos são assim para mim! Que bom que veio e está!
beijos