quarta-feira, 22 de agosto de 2012

um doce, um tempo, um desejo de memória




Passeando pela Casa Rosada, em Buenos Aires - Argentina, deparamo-nos com esse quadro! Está logo à entrada da galeria de "heróis" que lutaram pela Pátria de origem, pelo seu país e entre os vários líderes de países circunvizinhos, encontramos o nosso Tiradentes. Confesso que por alguns instantes fiquei sem palavras, senti uma ponta de orgulho no peito e uma vontade enorme de chorar.

Essas sensações que temos ao longe de nosso local de nascimento, sempre me suspendem.

Fico por dias muito triste e muito irritada, porque em nosso país a história, a memória, seus registros (sejam escritos ou construídos - arquitetura, obras de arte, paisagismo...) estão diluíndo, como sinto falta desta consciência consistente de deixar para o futuro um bem plantado. Uma marca, uma sentença de que sem essa história, nossa raiz se perde.

Devoro um alfajor com dulce de leche, pensando nisso! e de repente me lembrei dos pães de queijo de Minas recheado com o doce de leite mais cremoso que já comi! Isso ativou uma outra memória (olha ela aqui e sua importância!): Me recordei ter lido uma reportagem sobre Minas Gerais e suas obras Relíquias de Aleijadinho, estarem sendo delapidadas pelo tempo e pela falta de recursos (!!) para dar o devido cuidado ao conjunto de trabalhos do Mestre escultor.

Sinto falta disso em meu país, acho que por isso tenho tido a oportunidade de vê-lo à distância e por outro angulo e percebido que já existem pessoas que querem guardar algo para o futuro, como uma cápsula do tempo.

Neste aspecto, incluo aqui, as observações que fiz ao passar pelo Instituto de Arte e Jardim Botânico: Inhotim em Brumadinho, Minas Gerais!





Essa sensação não se modificou até agora, essa mescla de "bondade" com generosidade, de alguém (seja lá por que motivos ...$$... forem) não me importa nem um pouco, pensou em criar um espaço lúdico, sustentável, planejado, limpo, saudável, impecável, organizado, cuidado, leve, colorido, rico de esperança, porque alguém no futuro muito distante, vai saber o que ocorreu no Brasil, na arte de meu país na sua forma de contar história, a guerra mudou de forma, mas não de objetivo, se guerreia para manter uma tradição, da mesma forma que se rompe a tradição pra evoluir o processo da guerra que manterá a nova tradição, até que se rompa novamente. Fico pensando que Inhotim foi um dos melhores lugares no planeta já criados pelo homem, me desculpem a franqueza, mas não me sai da cabeça e do coração a leve suavidade com que saí deste espaço. De levar comigo a curiosidade e resgatar na volta a ordem e o progresso!

Foi um fechamento de ciclo para mim, meu resumo de tempo. Uma síntese bem elaborada da arte.história, em vida!


E hoje olhando o cuidado com que os argentinos cuidam de sua história e como preservam e saúdam a memória de seus heróis e dos nossos (!!) e ao ver o quadro pintado de Tiradentes com a seguinte frase abaixo: "Se todos quisêssemos, poderíamos fazer deste país uma grande nação"  contive o choro e segui caminhando e penalizada com minha própria forma de sentir, segui pensando no que mais fazer num país onde se fecham cinemas, onde construções cariocas, mineiras e paulistas de grande representação caem aos pedaços  e se abrem templos hipnóticos para o entorpecimento da mente (sejam as malditas igrejas subdesenvolvidas, estádios superfaturados, como os Rave temples com os trances das baladas)anestesiando a massa inculta.

O mundo precisa evoluir sob novas luzes, sob o vento das artes, sobre a razão da história mas principalmente pelo sentir: do Belo, do grandioso, do nobre.

Precisamos resgatar nossos heróis, para que em ressonância com a nossa trajetória heróica interior o mundo ganhe patamares novos.

Precisamos disso com urgência. Do Valor e do Princípio que dá vetor a isso. Precisamos de integridade.

O doce de leite de Minas não será igual ao dulce de leite da Argentina, mas ambos me trazem memórias desse futuro.

Que as cápsulas se mantenham, mas que o mundo evolua!

De Buenos Aires, para o mundo, Elaine 







4 comentários:

VILMA ORZARI PIVA disse...

Elaine, querida, fico embargada com lagrimas nos olhos com essa sensação de que não sabemos registrar, conservar e mostrar a história do nosso País. Infelismente é uma triste verdade!
Vivemos uma certa dualidade onde ao mesmo tempo que precisamos urgentemente resgatar nosso orgulho patriótico, temos em contrapartida a vergonha nacional com tanta roubalheira e descasos com nossos patrimônios históricos.
Eu fico imaginando quantos de nós gostaríamos de mostrar ao mundo, em especial aos paises sul americanos que somos feitos de um povo forte, de igualdades e memórias.
Adorei refletir com sua postagem! Parabéns! Beijos!!

Elaine P Bombicini disse...

Vilma Querida amiga de tantas reflexões! Que bom ter você por perto! Gente humana que pensa como eu, que age em seu campo de atuação sempre da melhor maneira e creia-me este é o único caminho, fazermos o nosso e um pouco mais. Obrigado por compartilhar suas sensações e sentimentos!! Saudades de você e de Araras...beijos e otimo final de semana, Lan

Adélia Nicolete disse...

Que bom te-la de volta no blog, Lan!
Veja voce que, infelizmente, nao so no Brasil a coisa esta tristinha em termos de conservaçao. Com os problemas economicos na Europa, o tesouro arqueologico grego esta sendo, aos poucos, levado embora por turistas ou sendo depredado. Nao ha dinheiro (diz o governo) para manter os mecanismos de segurança e conservaçao... Onde vamos parar?!

Elaine P Bombicini disse...

Adélia!
é sempre bom compartilhar os olhares, ando um tanto saturada e essas observações me levam para o centro. talvez me ajudem a perceber que algumas coisas precisam mesmo mudar, os novos seres que virão talvez não precisem dessas maravilhas que nos apaixonam tanto e que gostamos de entrar em contato ao vivo. Daqui um tempo talvez, viajemos apenas virtualmente, por fotos e sensações, mas muito provavelmente, estaremos em outras dimensões! Vah bene!! beijão querida!!